Estudo da Organização Mundial de Saúde, denominado “As mulheres e a Saúde” aponta que cerca de 400 milhões de pessoas sofrem algum tipo de depressão no mundo e quando o recorte da pesquisa considera o gênero, as mulheres apresentam uma maior vulnerabilidade a sintomas ansiosos e depressivos, principalmente aqueles associados ao período reprodutivo. Outra constatação no estudo é que as mulheres são a maioria entre consumidores de medicamentos psiquiátricos, cerca de 75%, e isso ocorre devido as desigualdades sociais entre os gêneros.
Tendo por objetivo geral propor uma linha de cuidado que reconheça e considere as questões de gênero como determinantes do sofrimento psíquico das mulheres, o Projeto Girassóis – Gênero e Saúde Mental desenvolve um conjunto de ações no município de Canoas. Sob a coordenação da ONG Coletivo Feminino Plural, o projeto promove de 26 a 29 de agosto a segunda capacitação de profissionais da rede saúde e de outras áreas, de forma a instrumentalizá-los para novas práticas. A proposta do curso é preparar profissionais para que possam questionar e superar visões e práticas marcadas por discriminações, estereótipos, fragmentação, medicalização excessiva e invisibilidade das interseções que determinam maior vulnerabilidade das mulheres ao adoecimento psíquico, ampliando assim a perspectiva da integralidade na atenção à saúde das mulheres desse município, em especial daquelas em situação de violência. Durante o curso serão discutidos os procedimentos, os manejos, as metodologias de atendimento e assim promover a reflexão sobre práticas em vários sentidos. O projeto conta com recursos da Secretaria de Políticas para as Mulheres e tem parceria da prefeitura de Canoas.
Segundo a médica e consultora do projeto Maria José de Oliveira Araújo, com formação em Saúde da Mulher na Universidade de Sorbonne de Paris (França), vários estudos realizados no Brasil concluem que os problemas de saúde que afetam a homens e mulheres são diferentes e, por isso, deveriam obrigar os serviços a darem respostas adaptadas especificamente às necessidades e demandas de cada gênero. No entanto, muitas destas necessidades específicas ainda são invisíveis para os profissionais de saúde. De acordo com ela, ainda existe tratamento indiscriminado para homens e mulheres quando o assunto é saúde mental. Ou seja, não se consideram as particularidades das mulheres tampouco se tem consciência que os adoecimentos são diferentes para ambos os gêneros. "As mulheres apresentam maior prevalência de sintomas psicológicos do que os homens e essa é uma importante razão para a maior procura pelos serviços de saúde e maior medicalização e abuso de medicamentos", sinaliza. Para a profissional, existe uma estreita relação de depressão com situações de vida que são próprias das mulheres como: violência doméstica, dupla e tripla jornada de trabalho, subordinação, discriminação, entre outros fatores. Considerar a questão de gênero implica perceber as questões sociais, históricas e culturais quando uma mulher busca cuidados nos serviços de saúde.
É importante ainda saber que as doenças mentais ocorrem em todas as sociedades e se encontram em inúmeras situações na vida, no mundo. Todos os países possuem determinada parcela da população com sintomas que pode ocorrer tanto em mulher quanto em homem, em todas as etapas da vida, entre ricos e pobres, e tanto em localizações rurais como urbanas. Se não tratadas, custam alto preço em sofrimento, invalidez e economia. A Organização Mundial da Saúde (OMS - 2010) estima que até o ano de 2020 as desordens mentais e neurológicas sofridas pela população serão responsáveis por 15% das demandas mundiais em saúde. Das dez principais causas que geram incapacidades nas pessoas, cinco delas estão relacionadas a transtornos psiquiátricos.
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