quarta-feira, 22 de julho de 2015

Uma nova abordagem para a saúde mental das mulheres pautou seminário realizado em Canoas

Evento reuniu participantes das capacitações anteriores em Canoas

A médica Maria José Araújo 
Para tratar dos altos índices de mulheres que desenvolvem sofrimento psíquico e os fatores que geram esse adoecimento e sugerir um modelo de atenção em saúde mental que considere a forma de adoecer das mulheres, a ONG Coletivo Feminino Plural desenvolve, em Canoas, o projeto “Girassóis – Saúde Mental e Gênero”. Realizado desde 2014, o Girassóis promoveu uma série de capacitações envolvendo cerca de 120 profissionais da rede no município. Todas e todos se reencontraram no dia 7 de julho no Auditório Sady Schwitz da Prefeitura de Canoas/RS, das 8h30 às 17h30 no Seminário Gênero, componente essencial na atenção à saúde mental das mulheres. A palestrante convidada foi a médica baiana Maria José Araújo, especialista em saúde da mulher na Sorbonne (França) e com formação em saúde mental.

Telia Negrão, coordenadora
do Coletivo Feminino Plural
O projeto Girassóis conta com recursos oriundos da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Em parceria com o município de Canoas vem sendo elaborados diagnósticos sobre as políticas de atenção à saúde mental e estudo de caso sobre relações entre violência e sofrimento psíquico. As ações educativas em comunidades e serviços de saúde foram realizadas em parceria com as Mulheres da Paz.

O objetivo desse projeto é evidenciar na prática os números e constatações da Organização Mundial da Saúde e sensibilizar a rede de atenção em saúde e para as mulheres em situação de violência para a importância de abordagem de gênero. Significa, segundo a médica Maria José, “ter que admitir que discriminação, a submissão à autoridade masculina e a modelos impostos provocam sofrimentos mentais, muitas vezes graves. Quando chegam aos serviços e apresentam uma maior vulnerabilidade a sintomas ansiosos e depressivos, especialmente associados ao período reprodutivo, passam por novas discriminações”.

Leina Peres, coordenadora do
Projeto Girassóis
Uma das consequências dessa situação é o uso abusivo dos medicamentos considerados de uso psiquiátrico. As mulheres estão entre os maiores consumidores desse tipo de medicamento no mundo, em torno de 75%, dada à sua situação de maior vulnerabilidade social. As mulheres das classes menos favorecidas, incluindo as mulheres negras, aquelas em situação de privação de liberdade, as adolescentes sem apoio social e as mulheres na terceira idade, segundo a médica “estão mais suscetíveis de passar por transtornos mentais graves causados pela superposição de vulnerabilidades, potencializando os agravos à saúde”, revela a médica.

No Brasil, a partir dos anos de 1990, iniciou-se no Brasil uma mudança na atenção à saúde mental, denominada de Reforma Psiquiátrica. Esta teve como característica principal reduzir as internações psiquiátricas e criar um sistema de atendimento ambulatorial, preventivo e integrado. Os CAPS se tornaram a referência. Apesar do caráter mais humano desta atenção, manteve-se a invisibilidade das mulheres como usuárias em saúde mental do SUS. No entanto um diagnóstico elaborado pelo Projeto em Canoas, coordenado pela socióloga Regina Beatriz Vargas demonstra que muitos profissionais são sensíveis aos sofrimentos femininos e não raro se sentem impotentes para ajuda-las pela falta de uma linha de cuidado.

O Projeto Girassóis trabalha na perspectiva de novas abordagens para o sofrimento mental das mulheres, cunhado pela doutora em Psicologia argentina Mabel Burín como “mal estar psicológico feminino”, que não se confunde com doenças psiquiátricas graves. Nesse enfoque, recomenda-se observar que a forma de adoecer psíquica feminina está na maioria das vezes vinculada a vivências de situações inesperadas da vida, por sofrimentos traumáticos, perdas e desafios de difícil superação. Vistas como incapazes de lidar com as próprias emoções, deixa-se de fortalecê-las e auxiliá-las a lidar com estas situações, sem preconceitos e estigmas. O projeto Girassóis se dispõe a contribuir com este debate e de influir nas políticas públicas de saúde.

Participantes do seminário

Documentário sobre saúde mental e gênero


Depoimentos de mulheres que vivem ou viveram sofrimento psíquico e de profissionais que atuam em serviços em Canoas e especialistas compõem o documentário dirigido por Mirela Kruel que será lançado no Seminário Gênero, componente essencial na atenção à saúde mental das mulheres dia 7 de julho de 2015, com a participação da atriz Janaína Kremer.

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